sábado, 31 de outubro de 2009

Today is Saturday – Capítulo Quatro

CAPÍTULO QUATRO – SUBTERFÚGIO

- Oh, Ronald!

Molly Weasley correu e abraçou o filho, assim que ele apareceu à porta da cozinha. Um abraço tão forte que ele quase não conseguiu respirar. Um abraço forte e molhado pelas lágrimas da bruxa.

Rony olhou para dentro e viu rostos preocupados ao redor da mesa. Nunca tinha visto Fred e Jorge tão pensativos e tristes. O seu pai estava com o rosto enrugado do nervosismo que lhe atormentava, enquanto sua mãe chorava descontroladamente. Os olhares de todos estavam distantes e cabisbaixos. Rony não sabia o que fazer ou dizer. Ele ficou olhando para o além também, de boca aberta. Ver todos daquele jeito só o deixava mais apreensivo e ansioso, tentado a fazer algo para resolver toda a situação, mas se sentindo pequeno, pois não tinha ideia de como resolveria tudo. Se ao menos a Hermione estivesse aqui para pensar por ele...

- Alguém pode... por favor, me falar alguma coisa? – Rony quebrou o silêncio, que não era total por causa dos soluços de sua mãe.

- A Gina desapareceu, maninho! – Fred foi o único que não o olhou, surpreso. Foi também o único a falar, apesar de sua voz ter soado a angustia. Seu pai sentara ao lado de sua mãe, acariciando-a.

- Isso eu já sei, eu quero saber os detalhes! – Rony bradou. – Eu quero saber o que aconteceu aqui, o que estão resolvendo em relação a isso! Eu quero saber como andam as investigações do paradeiro dela, caramba!

- O Percy está comandando uma equipe de buscas. Mas eles não conseguiram encontrar nenhuma pista... – se lamentou o sr. Weasley. - Ela não usou aparatação sozinha, nem aparatou acompanhada de ninguém que possa tê-la ajudado... Não usou rede de flu, e como o seu rastreador já caducou, ela não tem como ser rastreado por feitiço usado... Não há sinal de que ela esteja por esse mundo aí fora. Nós até já chegamos a temer o pior – ele foi atrapalhado por um sonoro e triste “Não” de Molly - Ninguém aguenta mais essa falta de informação...

- Mas o que foi que aconteceu antes dela fugir de casa? – Rony indagou – O que levou ela a fugir? A Gina tem uma personalidade forte, mas ela não faria isso sem motivo aparente! Ela não fugiria para tentar um sonho ou para ter um romance! Ela não é uma dessas adolescentes trouxas!

- Bem... ela... Ela teve uma discussão conosco... – Molly soluçou.

- Ela queria ser mais independente. – Continuou Artur – Ela estava reclamando que mesmo depois dela ter atingido a maior idade, nós ainda a tratávamos como criança. – O sr. Weasley levantou-se e ficou rondando a mesa. - Ela queria trabalhar, achar um emprego em qualquer coisa, e depois lutar pelo sonho de ser jogadora de Quadribol. Eu e sua mãe dissemos que ela ainda estava nova demais para sair por aí procurando emprego e que ela não sabia o que era o mundo... Ela ficou com muita raiva, você sabe a personalidade de sua irmã como é. Então, arrumou umas malas e saiu por essa porta. Sua mãe gritando de desespero, mas ela não deu a mínima... Apenas se foi... – ele olhava para a paisagem além da porta, na esperança de que a qualquer momento se visse uma garota de cabelos ruivos voltando para casa. - E agora ninguém sabe onde ela está. Ela parece ter evaporado, pois ninguém, nem no mundo bruxo nem no dos trouxas, viu uma garota com as descrições dela... Ela não pode ter sumido desse jeito...

- Então ela não fugiu, e sim saiu de casa... – Rony refletia. Queria sentir que estava fazendo algo para controlar a situação. Talvez refletir o ajudasse a encontrar uma solução para o mistério. Ele só não sabia em que ajudaria o fato dela ter saído ou fugido de casa.

- E... e dizendo que a gente ainda ouviria falar dela... Que ela ainda daria muito trabalho pra sociedade... – chorava Molly. – Eu não sei o que eu posso fazer se algo acontecer à minha Ginevra...

- Como é que a Gina pôde fazer isso...

Foi nesse momento que Rony escutou um toc-toc. Ele procurou o que estava fazendo o barulho, mas não notou nada de anormal. Ele estava tão atordoado com o desaparecimento de sua irmã, que não percebera que o toc-toc era simplesmente alguém batendo na porta da frente. Com o sumiço de Gina, certamente não faltariam visitas n’A Toca para saber notícias, ou para oferecer ajuda. Rony foi abrir, pois ninguém fez menção de sair do lugar.

Choque foi quando ele se deparou com o visitante.

- Como você se atreve...

- Calma, eu vim em missão de paz! – exclamou a visita, erguendo as mãos num sinal de rendição.

- Você não acha que é meio difícil acreditar que alguém como você possa estar em algum lugar em “missão de paz”?

- Acredite ou não, Weasley, eu estou aqui para ajudar. Se você não percebeu, alguém muito importante está desaparecido.

Rony puxou o loiro para longe da porta d’A Toca e eles ficaram no meio do jardim frontal. Ele agarrou pelo colarinho do rapaz e sacou a varinha. Um gnomo os observando dos arbustos. Pequenos mosquitos voando sobre as flores. E um vento calmo, que parecia prever a angústia em que a família estava.

- E por que esse interesse repentino em minha irmã? – Rony vociferou. O estresse em que ele se encontrava poderia forçá-lo a fazer qualquer coisa que ele desejava mas não tinha coragem de fazer por que sabia seguir a lei.

- Eu gosto dela, e não importa se eu sou um Malfoy e ela uma Weasley. – Draco se desvencilhou das mãos de Rony. – Não importa se você é irmão dela e tem raiva de mim. Não importa se eu não suporto a sua família, e se ninguém aqui me aplaude. A Gina é mais importante.

- Eu poderia te matar! – Rony gritou. O gnomo se escondeu.

- Poderia, mas não tem coragem. – O loiro desdenhou. – Eu estou aqui em paz, quero ajudar. Você acha que foi difícil abandonar todo o orgulho e visitar A Toca sabendo que eu encontraria todos vocês aqui? Você acha que é fácil perder a vergonha e encarar uma família que é sua inimiga? Acho que você ainda não teve a oportunidade de perceber isso, mas quando o amor da sua vida está em perigo, você não pensa em prós e contras, só se joga.

O resto dos Weasleys estavam chegando à porta da frente. Tinham estranhado a demora de Rony para receber uma visita. E mais ainda ao ouvirem a gritaria. O espanto tomou conta deles assim que viram os cabelos loiros do Malfoy.

- Eu também sei que por tudo o que fiz não sou bem quisto. Mas eu não estou aqui buscando redenção, estou aqui para ser uma força a mais para encontrar a pessoa mais importante do mundo. Eu sozinho demoraria dias para encontrar a Gina. Mas já que você, Rony, não entende isto, eu posso agir por conta própria!

Draco Malfoy virou-se para ir embora. Não seria humilhado por Weasley nenhum. Ele juntou toda a raiva que estava para chutar um gnomo que passava na sua frente. Não tinha motivos para estar com raiva, mas as idiotices de Rony haviam feito seu sangue subir à cabeça.

- Draco! – Gritou a sra. Weasley.

- Mamãe, deixa ele ir embora! Ele não tem nada o que fazer aqui! – Jorge disse.

- Draco!

Mas o Malfoy fingiu não dar ouvidos à sra. Weasley e saiu da propriedade d’A Toca. Molly lançou um olhar mortífero para Rony, que a olhou pedindo compaixão. Ela foi até o encontro do filho, e ele sabia que aí viria tempestade.

- Muito bonito, Ronald Weasley! – Ela bradou.

- Ele não tinha o direto de estar aqui! – Rony enfrentou sua mãe.

- Mas por que diabos? Se ele queria ajudar a encontrar sua irmã, o que nós poderíamos fazer contra isso?

- Por que se a senhora se esqueceu, ele era um Comensal da Morte, que me atacou durante toda minha estada em Hogwarts, que quase me matou na Sala Precisa, que fez com que Dumbledore morresse! A ajuda dele não faria falta! A Gina não vai morrer só por que Draco Malfou não ajudou!

- Nem ouse pronunciar uma coisas dessas! Nada de ruim vai acontecer com ela, mas nós temos que unir as forças para achá-la! Por isso, ou você vai atrás do Draco e implorar que ele ajude, ou então você vai ser deserdado!

- Xiii... Todos nós sabemos o que a mamãe quer dizer com deserdado... Acho melhor você não desobedecer ela... – foi o que Fred soltou.

Rony não acreditava que estava prestes a se humilhar para Draco Malfoy. Ele estava seguindo pelo caminho que o loiro havia ido, e tinha a sensação de já ter passado por aquele lugar. Ele não estava com a mínima vontade de encontrar o Malfoy, mas estava correndo, pois sabia o quão importante sua vida e a da Gina eram para sua mãe. Mas se Malfoy já tivesse aparatado... ele estaria morto. E quando ele estava perdido nos pensamentos de como seria sua volta para casa depois de não ter interceptado Draco, ele viu alguém subindo as colinas.

- MALFOY! - gritou ele.

O loiro parou e percebeu quem o chamara. Resolveu esperar. Se Rony tinha ido atrás dele, a ajuda havia sido aceita. Rony correu até o encontro de Draco, e chegou lá ofegante.

- Deu pra me seguir agora, Weasley?! – Draco foi sarcástico.

- Se minha mãe não tivesse me ameaçado de morte, eu não estaria aqui, só pra você saber.

- Que bom que você percebeu o quanto precisa de minha ajuda. – Draco Malfoy falou, escarninho.

- Se você quer ajudar só para os Weasleys ficarem te devendo um favor, esqueça. E se o que quer é estragar tudo, saiba que antes de você fazer algo de ruim, sua raça pode ser extinta.

- Você me assusta tanto quanto um dos gnomos do seu jardim.

- É melhor você tomar cuidado... Olha que os gnomos do meu jardim são bem ferozes... – Rony foi zombeteiro. – Mas eu conheço esse caminho. Você está indo pra casa da Luna... Mas por que você está indo pra casa da Luna? Você a odeia tanto quanto aos Weasleys!

- Bem, acho que ela é a única amiga da Gina que mora tão perto dela.

- Mas não dá pra sacar que os meus pais já foram interrogar a Luna? – Eles agora andavam.

- Mas não dá pra sacar que a Luna pode ter escondido algo?

- Ha! A Luna? Ela não sabe esconder nada, aquela maluca.

- Todo mundo mente, os malucos mais ainda.

Draco e Rony andaram pelas colinas, sem conversar, sem se olhar, um a um metro de distância do outro. Era difícil pros dois estarem tão próximos. Era difícil estarem juntos numa missão. Era estranho. Rony tinha raiva de Draco, pois ele sempre fora mau. Draco tinha raiva de Rony por ele simplesmente ser quem era. Além deles não havia mais ninguém por aquele caminho. Só o vento fazia o seu barulho. O silêncio fazia com que aquele metro de distância se transformasse em um ano-luz.

Depois de andarem mais, avistaram a casa não-peculiar em forma de cilindro, com as impressões Lovegood encravadas nela: estranheza e maluquice. Rony apressou o passo, mas Draco Malfoy não queria ficar para trás, e fez de tudo para ultrapassar o Weasley. Eles estavam competindo até em que chegaria primeiro à casa de Luna.

A garota loira estava cuidando de plantas à margem do córrego que beirava a casa. Alguns peixes diferentes pululavam perto da menina, como se quisessem a comida que ela certamente sempre dava a eles. As roupas dela não escapavam da esquisitice: ela vestia uma saia comprida, roxa e que balançava com o vento; seus cabelos compridos estavam amarrados num coque na cabeça e ela parecia estar vestindo um urso, pois sua blusa era marrom e peluda, apesar do Sol de verão estar a pino.

Eles logo perceberam onde Luna estava, e correram ao seu encontro, chamando seu nome. Ela parou de cuidar das plantas e levantou a cabeça devagar. Ela ficou olhando para os garotos com uma mistura de surpresa e medo. Mas ela não correu para fugir. Só ficou esperando, de pé.

- Vocês dois? – Luna disse, logo que os garotos estavam de frente para ela. – Digo, vocês dois aqui? E juntos? O Destino é mesmo uma coisa muito louca...

- Coisa louca mesmo. – Rony se pronunciou, ofegante. – E o Destino só nos uniu por causa de uma coisa e que você certamente pode ajudar.

- Você tá falando do sumiço da minha amiga Gina?

- É disso mesmo. – Draco Malfoy disparou.

- Mas por que você quer saber disso, Draco, se...

- Luna, eu sei o que você vai dizer – Malfoy interrompeu. Parecia querer que a loirinha não falasse. – Eu não quero que tudo comece de novo. Olha, eu gosto da Gina, eu revelei isso hoje pra família dela, e eu não sei o que eles acharam nem me importo, mas eu quero encontrar o meu amor. Eu não quero perdê-la. Ela não pode sumir assim dos meus braços.

Rony observava Malfoy falando. Parecia que pela primeira vez ele estava mostrando que prestava. Por mais que Rony odiasse ter que admitir isso, ele começava a admirar Malfoy, pois ele não tivera coragem antes para dizer que era apaixonado pela Hermione.

- Olha Luna, eu preciso que você fale tudo que sabe. – Rony suplicou. – Você tem que falar se a Gina veio aqui depois que saiu de casa. Você precisa falar se sabe pra onde ela foi depois que saiu daqui. Isso pode ser crucial, de vital importância pra achar a minha irmã. Eu suplico.

Luna olhou para Rony. Um olhar de admiração, ou de pena, ele não soube perceber. Ela se abaixou e cortou uma flor com sua varinha. Rony imaginava se ela não estava ficando desidratada com aquela roupa toda num dia tão quente.

- Luna, se você souber de alguma coisa, fale. Eu preciso encontrar a Gina. – Draco pediu.

- Não mais que a minha família precisa achar minha irmã. – Rony atacou, rabugento.

- Caramba, isso não importa, seu ruivo idiota. – Malfoy exclamou. - Não importa pra quem é mais importante achar a Gina. O que importa é achá-la! Você consegue crescer, Rony?

- Bem – começou Luna, calma, balançando seu corpo conforme o vento - , acho que nada me impede agora de contar o que eu sei.

- É, nada te impede Luna. Conte. – Isso pareceu mais uma ameaça do Malfoy.

- Eu sempre soube que as palavras têm poder. E se nós não soubermos ordená-las bem, as coisas podem sair erradas.

- Por que – Rony questionou - você está dizendo isso, Luna?

- Bom, a Gina me obrigou a fazer um Voto Perpétuo com ela. E me fez prometer que não contaria nada que eu soubesse aos seus pais. Mas nada me impede de contar a você, Rony.

- É só começar.

- Quando ela saiu de casa, ela veio aqui pra minha. – Luna iniciou, passando a flor pela sua pele. – Quando ela chegou, eu estava queimando biscoitos, nossa que trabalho eles deram! Ela disse que queria provar aos seus pais que ela não era mais uma criança, e que por isso não iria mais morar lá. Eu ofereci dilátex frito mas ela disse que não passaria muito tempo aqui. Minha casa só seria o ponto de escala pra Gina. Ela fugiria mesmo era daqui. Seria perigoso demais pra ela aparatar sozinha, alguém poderia descobri-la. – Gina olhou para Malfoy, ele parecia querer se comunicar com ela - A gente fez o Voto Perpétuo, depois de eu ter recusado muito. Eu nem tentei aconselhá-la a voltar para casa, pois você sabe como a Gina é cabeça dura. Ela disse que havia chegado a hora de partir, pois do contrário meu pai chegaria em casa. A gente veio para esse mesmo lugar em que estamos agora. Então, alguém veio buscá-la e levou-a por aparatação.

- Alguém veio buscar a Gina? Quem?

- Ele.

Luna apontou para Draco Malfoy, que ficou mais lívido do que era. Ele ficou assustado, e Rony ficou cego.

Rony não viu nada, não pensou em nada. Apenas bufou e pulo pra cima de Malfoy, socando sua cara. Luna tentou segurar Rony, mas ele parecia um touro que havia visto um manto vermelho. Ele prendia Draco no chão, sentado em cima dele, segurando a varinha apontada para o pescoço do loiro.

- Seu desgraçado! – Rony vociferou, raivoso. – Essa sua vinda à minha casa era só um pretexto pra disfarçar tudo! Você não queria ajudar coisa nenhuma! Fale onde está a minha irmã! Fale agora ou eu te mato!

- Rony! Não cometa uma loucura! – Luna gritou.

- Esse desgraçado sabia o tempo todo onde a Gina estava! – Ele socou Malfoy – Ele veio aqui só para se fingir de bom moço!

Rony apertou o colarinho de Draco e pressionou mais a varinha. Suas narinas inflavam com a raiva que percorria o seu corpo. Ele só tinha vontade de torturar o Malfoy. Só tinha vontade de torturá-lo até ele morrer. Os Weasleys estavam sofrendo e Draco Malfoy era o cúmplice de Gina. Só mais uma vez...

- Eu vou perguntar pela última vez: onde está a Gina?!

- Deixa eu... – Draco falou, com a voz entrecortada.

- Deixo nada! Fale agora!

- Rony...

- Cru...

- Eu não sei onde a Gina está, cacete! – Draco Malfoy gritou. Rony ficou olhando para ele, calado, ofegante. – Ela desapareceu da minha casa também!

- E como eu posso acreditar nisso?!

- Essa é a mais pura verdade. A Gina sumiu mesmo. Eu não estou mais com ela. Eu não sei pra onde ela foi, nem sei mais onde procurar.

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